7 de março de 2008

Já não estou cá










Fui-me embora deste mundo,
quem eu era partiu,
quem eu fui já cá não está.
Sou outro eu mais soturno,
sou outro eu moribundo,
que partiu de cá para lá.
No sentimento mais profundo,
na mentira entranhada,
na decepção da expectativa,
no sangue da minha ferida,
tudo se condensa lá.
Já não me sinto seguro,
o chão foge-me dos pés,
agora que me recordo do meu mundo...
sinto-me idiota por ter tentado viver lá.
A verdade é fogosa,
por vezes uma bruta,
a mentira uma p***,
que se vende aqui e acolá.
Quem compra diz que compensa,
quem usa vicia-se,
qualquer dia abusa
e a morte espreita já...
Faz como sempre,
aguento-me nesta tormenta,
aguento-me neste finistério,
onde tudo rebola pelo rio enlameado.
Apago o meu sorriso,
sigo pela estrada,
a gravilha cola-se aos meus pés descalços,
em todo o lado o meu sangue escorre.
Corro cada vez mais,
corro para nenhum lado,
canso-me de tentar,
farto-me e descanso por cá.
Para onde vou, o que faço cá,
será que não o posso fazer por lá?
Na incerteza deste poema,
na beleza que lhe escapa,
tudo é metáfora irritante,
que grita por não o ser mais.
Assim me despeço,
assim parto para lá,
em tudo o que me acontece,
exijo mais do que o que tenho cá!

In Funestis Decessus

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